A dona de casa Aparecida Graciano de Souza, de 64 anos, disse ter sido vítima de constantes estupros cometidos pelo marido, Antônio Ricardo Cantarin. Esse teria sido o motivo que a levou a matá-lo, em 22 de maio de 2023, além das ameaças feitas por ele contra os filhos e netos dela.
Nesta quarta-feira, dia 11 de junho, no Tribunal do Júri de Três Lagoas, Aparecida está sendo julgada por homicídio triplamente qualificado e por ocultação de cadáver, crime que chocou Selvíria, cidade onde o casal morava.
A vítima foi envenenada e teve o corpo cortado em pedaços, sendo as partes jogadas ao longo de uma rodovia em Selvíria. Antônio foi morto aos 64 anos.
A defesa informou ao juiz da 1ª Vara Criminal de Três Lagoas, Rodrigo Pedrini Marcos, que seria realizado apenas o interrogatório seletivo, ou seja, a ré responderia apenas às perguntas do advogado e, eventualmente, de algum jurado.
“Eu fiz o que fiz pelos abusos que ele cometeu comigo”, disse Aparecida, ao responder sobre o motivo do crime. Ao longo do depoimento, principalmente ao relatar os abusos, a dona de casa se emocionava. Manteve a mão sobre o ouvido esquerdo durante a maior parte do tempo, por sentir dor.
Segundo o site Campo Grande News, durante o depoimento, que durou cerca de 35 minutos, Aparecida contou que sempre fez uso de bebida alcoólica, hábito induzido desde a infância, e que se manteve no casamento com Antônio, que durou 1 ano e 7 meses.
Segundo ela, os abusos ocorriam durante episódios de forte embriaguez, quando ficava inconsciente. “Ele aproveitava para fazer tudo o que queria, e eu não aceitava”, disse, afirmando que só consentia com o que chamou de “sexo normal” [vaginal].
Esses abusos teriam começado a partir do sexto mês de relacionamento, quando ela ou a sentir dores no reto e na garganta, além de apresentar hematomas. Justificou não ter procurado um médico por medo de receber diagnóstico de câncer — doença comum entre seus familiares.
Em maio de 2023, dias antes do crime, notou hematomas nas costas. Disse que, em certo momento, o marido resolveu confessar o que fazia, itindo os estupros e afirmando que a lesão ocorreu quando a empurrou perto da porta. “Ele falou que, se eu me separasse, ia mandar alguém atrás de mim, ia me matar, matar meus filhos, meus netos”, contou, chorando.
A dona de casa também relatou que era a responsável pelo pagamento das contas da casa e que comprou um carro dele, no valor de R$ 12 mil. Tudo era feito com o dinheiro dela ou dele, em comum acordo. As perguntas feitas pela defesa fazem parte da tese de que o homicídio não teve motivação financeira. “[A morte] foi pelo estupro, porque eu não dependo do dinheiro de ninguém para sobreviver.”
Aparecida também disse que o marido tinha problemas físicas, decorrente de AVC. A perna e o braço do lado direito foram afetados, mas ele andava, embora com um pouco de dificuldade. "Ele arrastava um pouco, mas, para sentar, conseguia dobrar". Também negou que o deixasse sozinho em casa, sem cuidados.
Na reta final do depoimento, a ré se emocionou novamente, dizendo que sua vida virou um inferno ao descobrir que era estuprada e, depois do crime, por ter perdido o contato com um dos filhos. “Não tenho mais paz, não tenho mais nada”, chorou.
O crime
A polícia iniciou a investigação do desaparecimento do marido após relato dos vizinhos, que não viram mais Antônio desde o dia 20 de maio de 2023.
Aparecida Graciano foi presa no dia 26 de maio. Um dia antes, a Polícia Civil havia encontrado, próximo à BR-158, na zona rural de Selvíria, o tronco de um homem dentro de uma mala.
No interrogatório, Aparecida demonstrou nervosismo, chegou a negar qualquer envolvimento, mas depois confessou o crime.
Conforme a denúncia do MP/MS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), no dia 22 de maio, a dona de casa foi até uma loja agropecuária e comprou um frasco de veneno para ratos. Ao chegar em casa, deu o produto com água ao marido, dizendo que era um remédio para dor de barriga. Cinco minutos depois, foi verificar se ele ainda respirava e constatou a morte às 19h. Notou que Antônio estava com os olhos vidrados, o cobriu e foi dormir em outro cômodo.
Na madrugada do dia 23 de maio, iniciou o plano para dar fim ao corpo. Colocou um plástico sob a vítima e começou a cortá-la com uma faca de cozinha. No dia 24, por conta do mau cheiro, decidiu se livrar dos restos mortais. O tronco foi colocado dentro de uma mala, e Aparecida pediu ajuda aos vizinhos, dizendo que dentro da bagagem havia pedaços de pano velho, onde morcegos e outros bichos haviam morrido.
O cadáver foi colocado no banco de trás do carro da autora, e ela, junto com dois vizinhos, foi até a região onde descartou a mala. Ao voltar para a cidade, Aparecida deu R$ 20 aos homens. No dia 25 de maio, pegou os membros que estavam no freezer, colocou no carro, mas o veículo apresentou problemas e não conseguiu sair.
Os sacos foram jogados no dia 26 de maio, na rodovia sentido Três Lagoas, em um barranco.