Em 1501, fim do período medieval, esse era o nome do
Brasil, depois mudou para Terra de Vera Cruz.
A idade média se inicia com a queda do império
romano, no ano de 476 da era cristã e caminha até o
inicio da idade moderna, quando a peste negra
alastrou, destruindo mais da metade da população
européia.
ado. História.
Mas os efeitos dessa história reverberam até hoje.
Em 1994 cheguei para fazer meu mestrado em Köln - Alemanha.
Nunca havia houvido falar dessa cidade.
Me apaixonei imediatamente e esqueci das minhas
raízes, dos cruschs que não deram certo, do sol
quente, das ruas e da comida.
Parecia que eu havia acabado de nascer!
E como é bom ser feliz quando se tem o mundo pela
frente e a juventude ao seu lado!
Nunca gostei de praia, sol quente e areia.
Nunca gostei de saber da vida alheia.
Nunca quis casar.
Eu queria conhecer o mundo, descobrir segredos e
viver num lugar seguro.
Um dia ouvi uma mulher dizendo, que deveria cuidar do
namorado. Ela estava namorando para casar e tinha que
cuidar, pois senão, outra levaria embora o alecrim
dourado.
Aquilo me assustou muito.
Calada, pensei em como alguém poderia cuidar de um
marmanjo, para que ele não debandasse pro lado de uma
outra rapariga, serigaita ou apenas alguém que o
fizesse feliz?
Me senti completamente incapacitada para a
empreitada, além de entender num relâmpago de
segundos que o que eu procurava era alguém que
gostasse de mim, e apenas esse simples fato tornaria
nossa união imbátivel. Eu jamais teria qualquer
preocupação em *cuidar do marmanjo.
Enfim, essa era a sociedade em que eu vivia e que
agora estava para trás, esquecida, destronada em
minha memória.
Em Köln, eu pertencia a um grupo de bolsistas que
vieram de diversos paises do mundo.
A organização d.a.a.d - bolsa de estudos daaad -
nos recepcionou por várias vezes, nos levando para um
eio de navio pelo Reno em Koblenz, outra vez num
almoço com palestras a beira do mesmo Reno, só que
agora em Bonn, para que conhecessemos outros
bolsistas, fotos, explicações com tradutores, mapas,
informações e respeito.
Muito respeito.
O estudante é um cidadão de valor, embora sabidamente
sem um tostão no bolso, representa a cabeça que irá
dar a sua contribuição ao mundo. Assim é visto o
estudante na Alemanha. Quem não se forma, não lapida,
não constrói o cérebro e repete o ado. Por isso o
respeito àqueles que dão o sangue aprendendo.
Foram alguns meses de aclimatização na Germânia,
considerando que toda essa gentileza é acompanhada de
pressão, disciplina, horas e horas de biblioteca,
praticamente uma decisão profunda e abnegada aos
livros e mais pressão. Não é facil.
No programa também estava que seríamos recebidos por
alguém do BMZ - algo como Ministério do trabalho
Internacional.
Um senhor, nos recebeu com seus sapatos brilhantes,
em sua sala gigante, sentado elegantemente com pernas
cruzadas, modos contidos e distantes. Exalava
autoridade e todos nós, sentamos frente a ele,
tímidos e silênciosos com a poeira da nossa origem
cobrindo nossas roupas e nossos olhos.
Sim, carregamos nossa poeira conosco.
Esse austero senhor explanava sobre o que significava
a nossa presença naquele país.
Eu não entendia nada. Mas mesmo assim entendia.
É como uma magia.
Ele discorria sobre a Alemanha ser um país onde o
maior volume de seus investimentos eram destinados ao
Brasil e que esse trabalho de investir comercialmente
em outras paragens não significava se envolver com os
problemas internos do país. As relações eram
puramente comerciais, sem infiltrar em conflitos
internos, como religião, pobreza, regimes
autoritários, direitos humanos etc… Os interesses
comerciais se restringem ao comercio, e os problemas
internos de sua população não são do interesse dos
negócios que estão sendo tratados.
Assim, eu com meu sofrível inglês e humilde alemão
limitado a meia duzia de palavras, arrisquei
perguntar o porquê da Alemanha ter esse interesse tão
grande em investir no Brasil.
BMZ: Não é porque os brasileiros são alegres.
Essa foi a resposta.
Continuei não entendendo nada.
Como vê, os interesses de um governo estão muito
distantes do que um estudante poderia imaginar.
Pergunte se sempre, o que há por trás dos interesses
dos que se interessam por seu país.
Estaria o Elon Musk atrás do litium que dorme em
terras indígenas?
Não, claro que não!
Ele apenas quer te bombardear com falsas informações
e explodir sua cabeça até vc mesmo fazer o trabalho
para ele, destruindo a paz que reina na terra dos
papagaios!
Trinta anos depois - assistimos o planeta girar
novamente - nossa querida Germânia ainda mantém o
terceiro lugar na economia - mas o momento é dos
autocratas - aqueles que já não precisam esconder
seus valores egoístas quanto sociedade.
A América se levanta para mostrar como estão
convictos: Primeiro eu!
#Cavalheire-se!
Nem mesmo na idade média tal comportamento foi
pregado, publicamente, sugerindo democracia.
Ana Cavalheiro
Arquiteta. cronista. Mulher.
Vila São Pedro - Ms - Brasil
Grevenstein - Alemanha
Dicionário:
D.A.A.D: Deutscheakademischaustauschdienst - Serviço
de Intercâmbio acadêmico alemão.
Terra dos Papagaios: Terceiro nome dado ao Brasil por
ocasião do descobrimento - em 1501.
Crusch: Linguajar juvenil para um relacionamento
informal.
BMZ: Abreviação para Bundes Ministerium für
Zusammenarbeit - Ministério para cooperação e
desenvolvimento da Alemanha.
Elon Musk: Empresário norte-americano que fêz uma -
Sieg Heil - saudação nazista num momento de vitória
em Washington D.C.
Saudação essa, proibida na Alemanha, por significar a
dor e destruição causada à humanidade.
Köln: Colônia, cidade a beira do Reno.
Abril de 2025