A mulher e a moda fazem história.
O que vestir?
Amo vestidos.
Tenho inúmeros.
Minha mãe costurava para mim, para todas nós,
alguns vestidinhos e blusinhas lindos, e ela fazia
uma golinha bebê.
Eu ficava uma bonequinha de linda.
Era uma criança.
Com o tempo, os modelos foram se modificando.
Me lembro que ela bordou umas bolas num vestido
branco que fez para minha irma mais velha.
Ficou mega fashion!
A golinha de bebê caiu em desuso, já estávamos
grandinhas, e aquele estilo se perdeu nos dias da
infância.
Mas, contudo, sempre me impressiona mulheres que
se identificam com essa moda e a usam em cima de
seus anos de caminhada sobre a terra - como um
diferencial de mulher recatada - direita?
Atualmente aos meus olhos, o detalhe mais ridículo
na vestimenta de uma mulher adulta, é o estilo
golinha de bebê.
Ao meio da gritaria e absurdos ditos pelos
pastores, estão mulheres trajando a blusinha
golinha de bebê - o símbolo da inocência, do
indefeso.
Ela está dizendo, está gritando; sou uma criança!
não lhe causo mal algum!
Uma meia mulher.
Uma meia adulta.
Uma meia criança.
Uma mulher infantil.
O tamanho da vulnerabilidade da mulher é gigante.
Ela carrega um inimigo invisível consigo.
Um inimigo que ela própria não conhece, mas
alimenta e cuida - esconde e obedece - faz o papel
que se espera dela, e se cala.
A mulher criança só não se cala, perante o outro
inimigo criado por ela mesma; a própria mulher!
A mulher é o inimigo visível da mulher criança.
Com ela, a mulher criança bate de frente, enfrenta
e defende os gostos masculinos, critica os corpos
de outras mulheres, gorduras, cabelos brancos ou
que não estão da forma que os homens apreciam,
roupas que não são aprovadas pelo marido, entre
outros bichos.
A mulher infantil a serviço do patriarcado
opressor.
Ai de você, se contestar!
Não fique surpresa se ouvir: Também vestida desse
jeito, convenhamos, ninguém quer!
Mercadoria!
Que bom que ninguém quer, não estamos a venda.
Trágica é a imagem da mulher infantil que vestiu o
discurso de mulher direita e fez o seu reflexo na
vestimenta, negando qualquer outra forma de
expressão.
Toda mulher carrega a obrigação de dizer Não à
submissão e a opressão.
#Cavalheire-se!
Toda mulher é livre para vestir se como quizer.
Toda mulher é direita!
Eu sou o meu Reino.
Em mim está o que procuro no mundo.
Isso é ser mulher.
Ana Cavalheiro
Arquiteta. Cronista. Mulher.
Grevenstein - Deutschland
Vila São Pedro - Ms
Março de 2025
Dicionário:
Gola de bebê: Curiosamente, já foi o símbolo da
emancipação feminina do século XX, quando Coco
Chanel aboliu o espartilho e as bijouterias
ganharam espaço nos salões da moda, onde outrora
somente jóias verdadeiras brilhavam.
Coco era livre e nem um pouco romântica: A moda
não é uma arte, é um negócio; teria dito.